terça-feira, novembro 9

Compartilhando histórias





Era fim de ano, viajaram para Alagoas, Barra de São Miguel, para ser mais exato,um lindo lugar, com algumas praias pouco frequentadas, um ser solitário se encontra perdido dentro de si....
Em uma quinta-feira com um sol mais brando, decide ir a praia sozinho para contemplar a paisagem linda que ali se formara, senta na areia, apoia seus braços em seus joelhos e observa o mar como se nada mais existisse, 14:00, 14:30, 15:00, em torno das 15:15 chega uma mulher tentando vender suas peças de artesanato, ele desconversa, fala que não tem dinheiro ali no momento, a mulher percebe em seu rosto certo descontentamento, coloca suas peças de artesanato na areia, se senta ao lado dele e começa a tecer palavras que diziam mais ao menos isso:
"Quando eu era criança, perdi minha mãe e meu pai em um acidente de carro, pensei que o meu mundo estava acabado, morava no Rio de Janeiro e meu único parente vivo morava aqui em Alagoas, me mudei para cá contra a minha vontade, gostava do Rio e foi ali que minhas melhores lembranças foram formadas, esse meu parente que reside aqui, é muito rico, e me deu total condições de estudo, vida e tudo mais. Quando completei 14 anos, conheci uma senhora que mora em uma ilha não muito distante daqui que produzia peças de artesanato, um senhora muito habilidosa no que fazia, apesar da sua idade, beirava em torno dos 75 anos, tecia peças com uma destreza que eu nunca tinha visto... ela me ensinou a fazer algumas peças e as outras aprendi com o passar dos anos. Quando voltei para casa, mostrei ao meu tutor o que tinha acabado de aprender com a velha senhora, ele me disse que eram peças muito bonitas, mas que de nada aquilo ajudaria em minha vida, não questionei o que ele disse, mas continuava a produzir minhas peças, no colégio algumas pessoas me davam os materiais e me pediam para fazer peças para elas, com tempo livre as fazia com satisfação..." O sujeito a interrompe e pergunta porque ela está lhe contando tal história, ela diz para não interrompe-la e continua a falar. "Perto de terminar o Ensino Médio meu tutor perguntou-me o que gostaria de cursar na faculdade se seria, médica, advogada, engenheira, ou qualquer outro curso, respondi a ele que ainda não pensara na idéia, ele como sempre me compreendia deu tempo ao tempo e não reclamou da minha decisão de adiar a escolha. Mas uma fatalidade aconteceu, no dia da minha formatura do colégio, estávamos voltando para casa quando cruzamos com um motorista bebado que colide com o carro em que estávamos, eu por sorte não tive problemas maiores, mas o meu tutor não aguentou o impacto da batida e faleceu ali mesmo no local, muita tristeza, ele era um grande empresário, mas não possuía outra familia a não ser a mim, acabei ficando com toda sua herança, algo girando em torno de algumas dezenas de milhões, já tinha mais de 18 anos e podia tomar conta da herança. Pensava comigo mesmo o que fazer da vida a partir daquele momento, depois de muito pensar, deduzi que não precisaria de tanto dinheiro assim para viver, a empresa que ele era dono foi vendida e a quantia aumentou consideravelmente, alguns amigos deles me aconselharam a investir o dinheiro e tudo mais, mas não ouvi uma só palavra do que diziam, doei anonimamente em torno de 95% da herança a casas de acolhimento de moradores de rua e asilos, fiquei só com o que me faria viver tranquilamente.
Moro atualmente em uma bela casa com conforto e tudo que qualquer um sonha, mas como aquela velha senhora, continuo a produizr artesanato, na verdade eu não vendo essas peças, eu as ofereço e a pessoa escolhe o preço que quer pagar, o dinheiro não me faz diferença, mas sim a satisfação de ver nas mãos das pessoas um produto fabricado por mim, um produto que com muito carinho foi produzido e que com grande carinho é repassado.
Sofri duas grandes tragédias em minha vida e em momento algum pensei em desistir de viver, encarei como aprendizado de vida e percebi que como a velha senhora que me ensinou a fazer esses artesanatos, a cada instante que passa minha habilidade em produzir aumenta, que cada tragédia me fez crescer, que nem sempre uma derrota é de todo mal, dói na hora que acontece, mas com o passar do tempo a ferida dessa derrota cicatriza, esquecida essa ferida jamais será, mas sim abrandada com o tempo."
Após terminar de contar sua história a mulher percebe que o homem a seu lado está em lágrimas, um choro constante, com lágrimas e mais lágrimas caindo de seu rosto, ela acaricia sua cabeça e num gesto maternal o abraça, vê nos seus braços um homem acuado, retraido e que não contem suas emoções, o solta e pergunta a ele o que houve, e vê poucas palavras sendo sussuradas de sua boca: "Meu amor se foi". Ela percebe que aquele "se foi" não se trata de um abandono, mas sim de uma morte. Torna a abraçá-lo, continua nesse gesto durante 5 minutos, após o abraço, olha para sua bolsa, abre, procura, procura e acha ali dentro uma pulseira escrita "Liberte-se em seu tempo", coloca a pulseira no braço do homem que ali se encontra, se levanta, oferece a mão para ele, ele aceita a ajuda, se levanta olha nos olhos da mulher que está em sua frente, a abraça, olha para o relógio vê que já são 19:00, olha para trás, da um afago no ombro da mulher que ali está e segue o seu caminho...
A mulher o fita durante parte do seu percuso, depois olha para o mar e fala consigo mesmo: "O sofrimento alheio ajuda no entendimento do nosso próprio"

segunda-feira, novembro 8

Na noite...

Viva na noite
À noite todos somos vivos
Curta na noite
À noite todos somos lindos
Aprenda na noite
À noite o aprendizado é mais gostoso
Faça na noite
À noite... o gemido ecoa mais alto...

                 Thomaz Diniz O. Marques

Jogadas ao vento

"Te desejo a cada momento um pouco mais,
Te quero bem mais do que antes,
Tento pensar, mas só você me vem a cabeça!"

                 Thomaz Diniz O. Marques

sexta-feira, novembro 5

Ele nunca disse




Ele nunca disse "Eu te amo"
Não por faltar oportunidade
Mas por acreditar que "Eu te amo" é mais que uma frase
Que não tem sujeito, não tem predicado, objeto direto, objeto indireto que explique
Uma frase que não precisa ser dita necessariamente para alguém com quem você tem um relacionamento
Relacionamentos passam, lembranças continuam
Na falta de expressar o "Eu te amo" pela fala ele expressava pelo corpo
Cada abraço era o mais caloroso já dado
Cada beijo o mais apaixonado e ardente
Cada aperto de mão uma sensação de segurança maior que a anterior
Cada carinho o mais afetuoso
Mas ele deixou passar
O "Eu te amo" não foi dito
E a chance passou
Ele nunca disse "Eu te amo".

                                      Thomaz Diniz O. Marques