domingo, maio 31

só até antes de acabar, o amor ou o olhar


O olho que vive acostumado a piscar aprendeu a se abrir por mais tempo, a sorrir apertado, a fechar sem parar de te ver, a ver você pelas esquinas, na delicadeza das coisas, no fluir que a vida dá, no afago amansado, no beijo quase sempre dado e quase sempre realizado, e de tanto quase, o nunca é sempre a resposta. Gasta o tempo de te ver, vendo flor e sorri por cada segundo passado, nunca desperdiçado. Por piscar para te ver melhor aberto, se fecha para te ver sempre por perto, na certeza que te toca e na incerteza se na próxima esquina ainda vai querer ser tocada. E se o mundo acabar? Que não pare nunca de piscar, de se amar, imaginar, te olhar.

T.D.O.Marques

quinta-feira, maio 14

Da agonia

Para o ser, que de tanto ser, é. Tanto excede a sua expectativa que pouco imagina o que não lhe é. Faz da necessidade de ser o ser por necessidade. Explode sempre pelas vias, de fato que extrapolam, de fato se entortam. Encabeçada pelo existir, existe porque tem sempre no porvir o seu ir para onde deve ir, o existir porque acha que existir é vir, aproveita o ensejo da vida para brincar de morte, travar com a sorte sua batalha de desejo. Morre todo dia, ressuscita toda noite, vaga pela fumaça, voa com a passarada e em todo beijo finda sua jornada.

Thomaz M.

quinta-feira, maio 7

Pálido retrato

Era assim de feição tão leve, quase sempre se via voando
A palidez da sua alma era a serenidade que transbordava a pele
É assim de feição pesada, quase sempre se afunda
A palidez que tem na alma é a serenidade, só da pele.

domingo, abril 12

O arrepio

O sentimento mais forte que sente é o do arrepio, a alegria é aquela que não vem somente pelos risos, o afeto não só te afeta, mas te levanta, o espírito já é o que se espera dele, é o que transformado já não é abalado, abalado já não é sem traçado, e o desavisado é motivo de agrado.
Acompanha o ritmo do vento, que soprando é melodia tênue, que parado é brisa de sossego. Lugar cheio, vazio de alma, lugar de duas pessoas, campo minado, a mina do sabor, do saber, do querer, do desfrutar, do poder, do talvez, do amor, que sem sabor é pavor.
É melhor a volta do arrepio, que sincero como sempre é, desmonta qualquer estrutura sólida que se acha imune as vicissitudes que por ser e existir já há de ter, e por pavor tenta burlar todo sabor.

T.D.O.Marques

sexta-feira, abril 3

não deixe de lado o que nunca lhe faltou

Quando o destilar ódio, preconceito, ignorância e desesperança for a ode e o aplaudido dessa sociedade, eu desisto dessa sociedade
Quando o olho fechar para a injustiça, quando a educação não mais salvar, quando a esperança querer voar para longe, eu desisto dessa sociedade
Quando a seletividade me deixar ver somente o que querem, quando a notícia só vir pálida, enquanto a punição diferenciar, eu desisto dessa sociedade
Quando o horror for a naturalidade e sermos naturalmente criados nele, quando a subserviência for o prato do dia em cada esquina, a luta pelo ser servido sem servir for a pauta do dia, eu desisto dessa sociedade

O educar ao invés do julgar
O instigar, ante o simples maltratar
O provocar, formando a boa consciência
O alimentar, para a necessidade do ser
O tal ensinar a pescar, para não precisar arrancar
O apoiar, para não faltar
O libertar, para não aprisionar.


T.D.O.Marques

terça-feira, março 17

chegue.

O sorriso equilibra
Tira do chão que pisa
Esquenta alma
Dilui a vida
Apimenta a tarde
Amansa tempestade
Deixa o céu azul
Tira desassossego
Irradia aconchego


T.D.O.Marques

quarta-feira, março 11

Os quartos do quarto

Ele seguiu em direção a sua sina, bateu na porta do quarto, porta pesada que se abriu devagar e com força, não era fácil abri-la. O quarto, antes iluminado e altivo, estava escuro, o clima fúnebre deixava no ar o cheiro de de por vir, a cortina amarelada, que balançava pouco, seguia o vento que por mais forte que soprava pouco se mexia. A cômoda, no lado esquerdo, estava empoeirada, as gavetas rangiam ao se abrir, tudo parecia dificultoso o tratar. Os passos, dentro do quarto, eram delicados, para não cair ou tropeçar, no taco mal posto, na madeira suspensa, no prego mal colocado. O seu teto era frágil, de vidro era feito, pelo limo formado pouca luz se aproveitava. A cama estava marcada, o lugar, era o acanhamento, quando a mão pousou no lençol para o ajuste ser feito, a cama rangeu, clamou um certo socorro, chorou como chora um cachorro.
Ele se afetou, abriu a cortina e viu os cristais de poeira brilharem, diziam que o alívio possível só faltava um bom jeito, o vento novamente invadiu o ambiente, o ar era de esperança, o balanço voltou como em um baile, não parava. Com um alisar, o reparo da cômoda fez com que abrisse com a facilidade que se esperava. Para o chão as batidas do martelo ressoavam como música, pedras cantavam ao toque do vidro do teto, a harmonia era perfeita, era o quebrar e o disparar do renascer. A cama se afastou da parede úmida, o ranger não mais ressoava choro, cantava ópera.
Ele sorriu, olhou para seu entorno, enrubesceu as bochechas e de missão cumprida brandiu em direção a porta, testou e viu a leveza que ela havia adquirido, pensou em fechá-la... sorriu.

T.D.O.Marques